Quem Investe Mais: Homens ou Mulheres?

Durante décadas, o universo dos investimentos foi predominantemente masculino. Salas de pregão cheias de homens engravatados, linguagens técnicas pouco acessíveis e uma cultura financeira excludente formaram um cenário onde as mulheres eram minoria — muitas vezes invisibilizadas.

Contudo, os ventos mudaram. Hoje, cada vez mais mulheres estão ocupando espaço no mercado financeiro, tomando as rédeas do próprio dinheiro, estudando finanças e investindo de forma consciente. Mas afinal, quem investe mais: homens ou mulheres?

Essa é uma pergunta que não se responde apenas com números. Envolve fatores como acesso à educação, disparidade salarial, perfil de risco, tipos de investimento preferidos e até crenças culturais enraizadas.

Nesta matéria, vamos mergulhar nos dados mais recentes sobre o comportamento financeiro de homens e mulheres no Brasil, analisar as principais diferenças entre os perfis de investimento, e mostrar como o cenário está mudando — com potencial para transformar o mercado nos próximos anos.

Se você se interessa por educação financeira, igualdade de oportunidades e tendências de comportamento, continue lendo. O conteúdo a seguir é essencial para quem quer entender mais sobre dinheiro — e sobre a sociedade.

O Panorama Atual dos Investidores no Brasil

De acordo com o Raio-X do Investidor Brasileiro, divulgado anualmente pela ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), ainda há mais homens do que mulheres entre os investidores formais no país.

📊 Principais dados de 2024:

63% dos investidores são homens
37% são mulheres
Homens concentram maior volume financeiro investido
Mulheres são maioria em produtos de menor risco, como poupança, Tesouro Direto e previdência privada

Embora os homens ainda estejam à frente em volume e quantidade, a taxa de crescimento de mulheres investidoras é superior, o que mostra que o cenário está em transição.

Por Que os Homens Investem Mais?

Algumas razões explicam por que, historicamente, os homens investem mais do que as mulheres:

1. Desigualdade de renda

A diferença salarial entre os gêneros ainda é significativa. Segundo o IBGE, as mulheres ganham, em média, 78% do salário dos homens, o que impacta diretamente o valor disponível para poupança e investimento.

2. Divisão desigual das tarefas domésticas

Muitas mulheres assumem duplas ou triplas jornadas (trabalho, casa e filhos), o que reduz o tempo disponível para aprender sobre finanças e planejar investimentos.

3. Cultura financeira excludente

Por muitos anos, o mercado financeiro utilizou uma linguagem técnica e elitista, pouco amigável para iniciantes. Isso criou barreiras de entrada para muitas mulheres.

4. Menor estímulo desde a infância

Enquanto os meninos são incentivados a correr riscos e explorar o mundo, meninas muitas vezes são ensinadas a “guardar” e “economizar”, o que pode influenciar o perfil de investimento ao longo da vida.

As Mulheres Estão Mudando o Jogo

Apesar dos obstáculos, as mulheres estão avançando rapidamente no mundo dos investimentos.

Segundo dados da B3 (bolsa de valores brasileira), o número de mulheres investidoras na bolsa cresceu mais de 400% entre 2019 e 2024. Um salto impressionante, que reflete não apenas o aumento do interesse, mas também o esforço de muitas para aprender, poupar e aplicar.

🔍 Destaques do crescimento feminino nos investimentos:

Crescimento consistente em ações e fundos imobiliários
Maior presença em previdência privada e Tesouro Direto
Fortalecimento de comunidades financeiras femininas, como “Finanças Femininas” e “Me Poupe!”
Criação de fundos de investimento voltados exclusivamente para mulheres

Diferenças no Perfil de Investimento

Homens e mulheres não apenas investem em volumes diferentes — eles investem de formas diferentes.

📈 Homens: perfil mais agressivo

Preferência por ações, criptomoedas, day trade e investimentos de alto risco
Foco em rentabilidade e retorno rápido
Mais suscetíveis a movimentos impulsivos de mercado

📉 Mulheres: perfil mais estratégico

Foco em estabilidade, objetivos de longo prazo e segurança
Preferência por renda fixa, fundos equilibrados e previdência
Menor propensão a perdas por decisões emocionais

Estudos internacionais mostram que, embora os homens invistam mais, as mulheres tendem a ter desempenho superior no longo prazo, justamente por adotarem uma postura mais disciplinada e menos impulsiva.

O Papel da Educação Financeira

A popularização da educação financeira no Brasil tem sido um dos grandes motores dessa transformação.

Programas como ENEF (Estratégia Nacional de Educação Financeira), canais no YouTube, perfis no Instagram e TikTok, e influenciadoras como Nath Finanças e Carol Sandler têm descomplicado o acesso ao conhecimento, com foco em mulheres de diferentes classes sociais.

Além disso, as instituições financeiras estão criando produtos e campanhas voltados ao público feminino, entendendo que as mulheres são tomadoras de decisão cada vez mais relevantes no planejamento familiar.

Mulheres como Líderes Financeiras da Família

Uma pesquisa do Google Brasil apontou que 73% das mulheres brasileiras são as principais responsáveis pela gestão financeira da casa. Isso inclui pagamento de contas, controle de orçamento, compras, e muitas vezes — mesmo sem saber — decisões de investimento.

Ou seja, ainda que nem todas tenham CDBs, ações ou fundos no nome, muitas exercem um papel ativo e estratégico sobre o dinheiro da família, o que reforça a importância de incluí-las nos conteúdos e políticas de educação financeira.

Tendências para o Futuro

Com base no crescimento recente, podemos projetar algumas tendências para os próximos anos:

✅ 1. Equilíbrio na proporção de investidores

A tendência é que o número de mulheres investidoras continue crescendo até atingir patamares mais próximos dos homens.

✅ 2. Popularização dos investimentos acessíveis

Com plataformas facilitando o acesso e a partir de R$30 já sendo possível investir em renda fixa e Tesouro, mais mulheres terão condições de entrar no mercado financeiro formal.

✅ 3. Educação financeira nas escolas

Com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) incluindo finanças na educação básica, futuras gerações de meninas poderão crescer com mais conhecimento e autonomia para lidar com dinheiro.

✅ 4. Liderança feminina no mercado financeiro

Veremos mais mulheres atuando como consultoras, planejadoras financeiras, influenciadoras e líderes de fundos — criando um ecossistema mais diverso e equilibrado.

Como Estimular Mais Mulheres a Investirem?

Se você é homem ou mulher e deseja ver um mundo financeiro mais justo, aqui estão algumas formas de colaborar:

Incentive conversas sobre dinheiro com amigas, irmãs, mães e filhas
Compartilhe conteúdos educativos em grupos e redes sociais
Descomplique o vocabulário técnico e seja acessível
Apoie iniciativas e profissionais que promovem educação financeira inclusiva
Dê voz e espaço para mulheres falarem sobre suas experiências com dinheiro

Conclusão: Quem Investe Mais?

Hoje, os homens ainda investem mais em termos numéricos e financeiros. Mas as mulheres estão crescendo em ritmo acelerado, investindo com inteligência, cautela e propósito.

Mais do que comparar quem tem mais patrimônio, é importante entender que o investimento é uma ferramenta de liberdade e transformação social. E quando mais mulheres investem, toda a sociedade avança.

Portanto, a pergunta certa talvez não seja “quem investe mais?”, mas sim:
O que podemos fazer para que todos tenham as mesmas oportunidades de investir — com conhecimento, autonomia e segurança?